Instituto de Psicologia e Serviço Social

IPSS

Cognição Social e Dinâmicas Interacionais

Pesquisadores
Antônio Marcos Chaves, José Carlos Ribeiro, Marcos Emanoel Pereira, Marilena Ristum e Mônica Lima de Jesus

Resumo
A tradição de pesquisa em Psicologia Social tem produzido discussões e conhecimentos acerca da relação indivíduo/cultura/sociedade. Tais discussões tem produzido polêmicas em torno de bases epistemológicas do conhecimento produzido na área, tomando-se como referência estudos produzidos com bases mais “individualizantes” da influência do social sobre os comportamentos, vindos da tradição anglo-americana e que tem como uma das teorias mais correntes aquelas identificadas como Estudos de Cognição Social. Por outro lado, são atuais, também, tratando da mesma relação, os estudos inseridos na denominada psicossociologia francesa e aqueles que assumem pressupostos das perspectivas histórico-culturais, os quais são referidos como tendo bases mais “socializantes Alia-se a esta abordagem o enfoque da psicologia cultural, que coloca a centralidade da cultura nas mentes humanas, dando significado às ações, e que constrói uma via de aproximação com a Linha de Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento e, consequentemente, com a outra área de concentração do Programa. Inserindo-se nesta discussão, esta linha de pesquisa se propõe a desenvolver estudos que propiciem reflexões e esclarecimentos acerca de questões epistemológicas e metodológicas que cercam esta questão. Dentro da primeira perspectiva, tem sido desenvolvidas pesquisas acerca dos esteréotipos de minorias (negros, portadores de HIV, estrangeiros, mulheres etc.), as quais têm possibilitado uma interlocução com os resultados de estudos realizados a partir da segunda perspectiva, que se referem ao estudo de representações e significados de infância, família, casamento, homossexualidade, violência nas suas mais variadas formas e instituições que se propõem a combatê-la etc. A linha de pesquisa se propõe não só a produzir uma compreensão mais aproximada dos objetos em estudo, mas também contribuir para a discussão dos fundamentos epistemológicos do conhecimento produzido.

 

Projetos em Andamento

 

Significados de proteção à infância e à adolescência entre conselheiros tutelares da cidade de Salvador, Bahia
Antônio Marcos Chaves

Este projeto propõe analisar os significados de infância e adolescência e de proteção à infância e à adolescência entre conselheiros tutelares de Salvador. O propósito é de cotejar o percurso de construção do significado de infância na Bahia, considerando os princípios estabelecidos pelo ECA e o funcionamento dos Conselhos Tutelares (CT) em relação aos seus objetivos últimos, que é o de proteger a infância. Cabe ao CT zelar pela proteção à infância e à adolescência, no sentido de que a doutrina da proteção integral à infância seja exercida, para que as crianças e os adolescentes sejam, na realidade, cidadãos de pleno direito. No entanto, partimos do pressuposto de que a atuação dos conselheiros tutelares para a proteção à infância, não está restringida às definições legais, mas são influenciadas pelos significados acerca da infância e adolescência e, consequentemente, sobre a proteção à infância e à adolescência. O referencial para a abordagem do fenômeno psicológico insere-se nas abordagens socioculturais. Considera-se que a idéia que a sociedade tem acerca da infância é revelada nas práticas que lhes são dirigidas. Os significados construídos possibilitam a compreensão da atualidade. A pesquisa será realizada junto aos treze CTs de Salvador, coletando-se informações acerca das condições físicas de funcionamento dos CTs, identificando as demandas e encaminhamentos feitas, entrevistando os conselheiros tutelares e à adolescência, assim como aplicando um Teste de Evocação Livre de Palavras, palavras indutoras: infância, proteção à infância, adolescência e proteção à adolescência. Os dados serão analisados qualitativamente e quantitativamente, com a utilização dos softwares ALCESTE e EVOC.

 

Usos e Apropriações de Dispositivos Comunicacionais Móveis nas Práticas Interacionais Cotidianas: um estudo com jovens universitários
José Carlos Ribeiro 
Fabrício de Souza (UFBA)

A presente pesquisa objetiva detectar os formatos de usos e apropriações dos dispositivos comunicacionais móveis nas atividades diárias de jovens universitários, e investigar as ressonâncias de sua incorporação nas dinâmicas interacionais, em especial no que diz respeito aos modelos de comunicação interpessoal, de sincronização interacional e de comportamentos sociais vivenciados. Busca-se com isto aprofundar o olhar sobre as implicações dos usos desses dispositivos na vida social, captando, através da utilização de técnicas qualitativas (ancoradas na proposição de duas categorias e oito sub-categorias de análise), as narrativas pessoais dos sujeitos sobre os sentidos, os significados e os lugares que eles ocupam em suas vidas, compondo e recompondo experiências de práticas comunicativas e interacionais. Com este intuito, serão analisadas de forma comparativa as mudanças identificadas nos modelos de interação vivenciados por jovens universitários de cinco cidades.

 

Significados de maternidade para mães de adolescentes em medida de privação de liberdade.
Marilena Ristum

O adolescente autor de ato infracional, de acordo com o ECA, deverá ser submetido a medidas socioeducativas, aplicadas e operacionalizadas de acordo com sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Tais medidas visam a proporcionar, ao adolescente, a possibilidade de inclusão social, constituindo, portanto, um conjunto de ações que, ao garantir seus direitos, voltam-se à formação de valores positivos de participação na vida social. As instituições (CASEs) encarregadas de aplicar as medidas sócioeducativas têm sido focalizadas como objeto de estudos acadêmicos, especialmente pela importância que a efetividade dessas medidas assume nas tentativas de superação das dificuldades relacionadas à violência que faz parte do cotidiano social. Nesse contexto, pouco se tem estudado a respeito de como as mães dos jovens em privação de liberdade ressignificam a maternidade, diante da descontinuidade cultural provocada pelo internamento do filho. A tensão entre cultura coletiva e cultura pessoal emerge mais fortemente diante de rupturas ou descontinuidades que requerem, da mãe, a reconstrução do significado de maternidade. As estratégias desenvolvidas nesse processo podem tomar, a grosso modo, o caminho da rejeição ou, ao contrário, ir em direção a um maior apoio, como tentativa de proteger o filho e ajudá-lo a atravessar as dificuldades. Nesse último caso, sugere-se a pressão da cultura coletiva a respeito do ser mãe.

 

Violência e Preconceito na Escola
Marilena Ristum
Juliana Prates (UFBA)
Adriana Férriz (UFBA)

O propósito deste projeto é desenvolver ações permanentes na produção de conhecimentos e de indicadores para o enfrentamento de duas problemáticas recorrentes no contexto da escola: a violência e os preconceitos. Propõe-se a elaboração de um programa de promoção de sociabilidades solidárias e cooperativas nas escolas, incluindo a operacionalização de um projeto de estudos sobre preconceito e violência nas escolas em âmbito nacional, e um programa nacional para o enfrentamento da violência e do preconceito nas escolas. A proposta geral prevê uma pesquisa de levantamento bibliográfico, a realização de estudo de campo em escolas do território nacional, e a proposição de subsídios para a elaboração de políticas públicas nacionais, estaduais e municipais de enfrentamento à violência e ao preconceito nas escolas. Em uma segunda etapa, pretende-se a criação de Centros/Núcleos ou Grupos de estudos e pesquisas nas instituições parceiras e a proposição de programas e propostas de políticas públicas em parceria com a comunidade e os movimentos sociais para o enfrentamento crítico dos problemas da violência e preconceito nas escolas.

 

Trajetórias acadêmicas e construção de significados e sentidos na transição dos bacharelados interdisciplinares à formação em Psicologia na UFBA
Mônica Lima de Jesus
Denise Coutinho (UFBA)
Sônia Sampaio (IHAC-UFBA)
Naomar Almeida Filho (UFBA)
(Apoio: UFBA - Auxílio financeiro)

Entre 2006 e 2009, a UFBA concebeu e implantou parcialmente o modelo curricular de ciclos, com base em uma nova modalidade de curso de graduação: Bacharelados Interdisciplinares (BI). Atualmente, aproximadamente 1.600 vagas são oferecidas em quatro opções de BI: Humanidades, Artes, Ciência & Tecnologia e Saúde. Em 2009, o Instituto de Psicologia propõe a Área de Concentração Estudos da Subjetividade e do Comportamento Humano (AC-ESCH), como possibilidade de transição entre os BIs e o Curso de Progressão Linear de Formação de Psicólogo. O BI-UFBA, e seus desdobramentos, por exemplo, a oferta organizada de vagas para egressos do BI para os Cursos de Progressão Linear (CPL), formam uma proposta inovadora que precisa ser submetida ao escrutínio interrogativo à altura das condições de possibilidades de sucesso que conformam tais mudanças. Iniciando esta linha de pesquisa, propomos a relação do BI-UFBA com um domínio específico – o CPL em Psicologia, sediado no Instituto de Psicologia da UFBA (CPL-Psico) – como contexto de pesquisa. Temos como objetivo geral analisar significados e sentidos atribuídos por egressos dos BI ao processo de escolha do Curso de Psicologia como carreira profissional e suas expectativas para o exercício da profissão. A concepção e a organização do ensino superior no Brasil reforçam profissionalização precoce de jovens, pois, muito tenramente, eles devem decidir a profissão futura. Sabe-se que a formação profissional não é a única (e talvez nem a mais importante) função da universidade. Muitas questões merecem investimento intelectual. Por que os egressos do BI, ao serem expostos ao ensino não profissionalizante e adquirindo algumas das habilidades citadas, escolhem o CPL-Psico e não se direcionam ao mundo do trabalho? Quais os significados e sentidos envolvidos no processo de escolha profissional de egressos do BI? Que expectativas têm esses sujeitos sobre a escolha da Psicologia como carreira profissional e sobre o exercício dessa profissão? Quais os significados e sentidos político-pedagógicos da proposta da AC-ESCH? Qual a perspectiva concreta do BI tornar-se primeiro ciclo da formação em Psicologia? Como estratégia metodológica, realizaremos uma etnografia focalizada, com vistas a identificar padrões e pontos focais da vida cultural e social dos estudantes nesse contexto. Os sujeitos da pesquisa serão os estudantes egressos do BI-UFBA que ingressarem no Curso de Psicologia, professores e dirigentes do IPS e IHAC. Dentre as principais técnicas, utilizaremos entrevistas semi-estruturadas com informantes-chave. Esta pesquisa se inspira no modelo teórico-metodológico do Sistema de Signos, Significados e Práticas-S/ssp conduzida por um dos co-autores deste projeto. O S/ssp é constituído de três níveis para a abordagem de um problema de investigação: o factual, o narrativo e o interpretativo. Como resultado, estimamos oferecer uma análise consistente dessa experiência inovadora de formação acadêmica em ciclos, possibilitando a um só tempo o acompanhamento e a avaliação do modelo. A pesquisa pretende ainda estimular e orientar trabalhos acadêmicos de IC, Mestrado e Doutorado sobre o tema, visando à articulação com investigações similares conduzidas em outras universidades que têm adotado modelos de formação equivalentes.